quarta-feira, 28 de junho de 2017

FALTOU ALTIVEZ A TEMER NA NORUEGA, DIZ GENERAL


terça-feira, 27 de junho de 2017

COMO DESMANTELAR UMA SOCIEDADE



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Com a estagnação dos velhos comunistas, uma nova esquerda surgiu no mundo, influenciada pelas ideias do italiano Antonio Gramsci, falecido em 1937, aos 46 anos. Diferentemente de Karl Marx, para quem todo o resto era decorrente da estrutura econômica dominante, o sardenho de Ales conferiu destaque à superestrutura e à hegemonia cultural, conquistada pela transmissão de ideias em todos os espaços de poder, especialmente nas escolas e nos meios de comunicação.
O Estado e seus líderes resultam do somatório de forças em disputa. A sociedade civil e a sociedade política se influenciam mutuamente, e o governo é o resultado das ideias dominantes. Segundo Mochcovitch, citado por Marcele Frossard (em www.infoescola.com), o conceito de hegemonia, finalmente, representa talvez a contribuição mais importante de Gramsci à teoria marxista. Hegemonia é o conjunto das funções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período, sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da sociedade. A hegemonia é composta de duas funções: função de domínio e função de direção intelectual e moral, ou função própria de hegemonia (MOCHCOVITCH, 1992, p. 20-21 apud DANTAS, 2015, p. 17).
O fracasso da luta armada, e, por conseguinte, da tomada do poder pela força, despertou na nova esquerda o valor dos ensinamentos de Gramsci. Primeiro, com o PCB, que, aferrado a esquemas antigos, não conseguiu arregimentar forças e confundiu a hegemonia cultural com a ocupação de espaços na máquina estatal, tanto que na Bahia era famosa a frase de Antonio Carlos Magalhães de que ele preferia trabalhar com os comunistas, por serem dedicados.
Quem mais soube aplicar a teoria gramsciana foi o PT. Oriundo da ala socialista da Igreja Católica, representada pelos adeptos da Teologia da Libertação, de grupos trotskistas e operários, o Partido dos Trabalhadores começou a espalhar sua influência a partir dos sindicatos e em poucos anos tornou-se capilar na chamada sociedade civil organizada.
Partido inicialmente voltado para as lutas dos trabalhadores, vislumbrou a tomada do poder por meio da formação ideológica de gerações nas escolas, campos e construções, passando a empunhar bandeiras que pusessem abaixo tudo o que fosse de tradição civilizatória.
O resultado está aí: qualquer moleque se acha com autoridade para desbancar o conhecimento acumulado há milênios, os filhos não reconhecem a autoridade paterna nem dos professores, enquanto a sociedade, atordoada e sem saber o que fazer, chamam o delegado para fazer o papel do pai e da mãe.
Muitos pais, que cresceram na irresponsabilidade, fazem os filhos e vão embora; muitas mães, da mesma forma, têm filhos por diversão, e os entregam aos cuidados dos avós, quando não os largam por aí ou os negligenciam para curtir baladas, porque são mulheres e têm todo o direito de perseguir a felicidade individual.
Uma parcela significativa da população perdeu os freios morais do medo, da vergonha e da culpa, tornando-se um segmento de desembestados, e nos levará ao começo do fim, sem nada de bom para pôr no lugar, se as pessoas de bom senso não reagirem a tempo.
Já vivemos um tempo em que o errado é o certo e o certo é o errado. E quem sempre procurou andar na linha vai ter de pedir permissão ao bandido para abrir a boca.

Miguel Lucena é jornalista e delegado da Polícia Civil do DF.