Estou acompanhando a repercussão na mídia do vídeo gravado
pelos atores globais, contra a Usina Belo Monte . Confesso que estou surpreso e feliz,
tem muita gente boa que não gostou nada desta palhaçada. Como o caso do texto abaixo.
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foto cleomar diesel |
Do Terra Magazine
Pois estimados leitores cá estamos, dependendo de
onde estamos. Se estivermos em São Paulo, por exemplo, podemos
aproveitar das maravilhas da Balada Literária, a criação do Marcelino
Freire para mostrar que evento de literatura pode, sim, pode, ser muito
legal, ter altíssima qualidade, e, ora vejam, ser grátis. Basta querer
que todo mundo que queira entrar entre, não é mesmo?
E entre um
momento e outro da Balada cá estava eu, ciscando no Tuiti e pronto, fui
atingido por um vídeo gravado por muitos atores globais baixando o
cacete na hidrelétrica de Belo Monte, garantindo que ela é o mal sobre a
Terra, o exu, o capeta, o diabo em sua versão mais úmida, e eu me
pergunto, como eles sabem de tudo isso? E mais, por que o vídeo deles é
igual a um americano, dirigido pelo Spielberg para fazer os americanos
tirarem a bunda do sofazão e irem votar?
Por que atores globais
fizeram um vídeo contra? Eu não tenho nada contra atores globais, fora o
sotaque e a mania de fazerem teatro comercial, mas não tenho nada a
favor. Pra mim, são tão ignorantes em assuntos de represas no Pará como
quase todo mundo com quem eu falei antes de escrever essa coluna, se bem
que, admitamos, muito mais fotogênicos. Mas, mesmo sendo pra lá de mais
bonitos e reconhecíveis do que eu ou o senhor aqui ao lado, eles falam
tanta besteira quanto qualquer um, e isso me irrita. Energia eólica é
mais limpa? Alguém já viu um parque eólico, que por demandar vento
costuma ficar no litoral, onde também ficam as praias? Importante,
necessário, talvez melhor, mas, limpo? Defina limpeza aí, seu global,
porque eu talvez ache uma represa cheia de água no meio de uma floresta
cheia de água algo mais natural do que cataventos altíssimos
transformando por completo uma paisagem que antes era perfeita. Solar?
Estimado espécime global, sua senhoria faz idéia da área necessária para
produzir 100 megawatts de energia solar? Eu sei, e é um monte de área,
que não vai servir para mais nada, montes de recursos, dinheiro pra
caramba, e ainda temos os enormes custos de manutenção. Belo Monte são
11 mil megawatts, senhor ou senhora global. Faça as contas antes de vir
ler texto dado por sei lá quem, e talvez eu realmente leve a sério o que
dizem, o que o senhor ou senhortalvez mereçam, desde que trabalhem para
isso.
Os bonitinhos dizem que Belo Monte vai criar um baita lago
e afogar a floresta. Eu, feinho, fui estudar. O lago da represa vai
ocupar uma área de 516 km2, me informa o Google. O mesmo Google me diz
que o estado do Pará possui uma área de 1.247.689,515 km2. O que deve
querer dizer que o lago a ser formado vai ocupar uma área equivalente a
1/2400 da área do estado do Pará, que por sua vez é um estado com 7
milhões de habitantes, com dois milhões deles morando em Belém e todos
participando do Círio de Nazaré, pelo que vejo. Ou seja, uma represa vai
alagar uma área de 1/2400, ou nada por cento, de um estado basicamente
vazio e isso se torna um problema por que mesmo? Não dêem texto, provem.
Do jeito que vocês falam, encenando, eu não tomo como sério o que é
dito. A moça vem e diz "24 bilhões" e soa como o Dr. Evil falando "One
billion dollars" com o dedinho na boca. Dona, diga aí qual é o PIB
brasileiro em 2010, e quantos por cento do nosso PIB, a nossa riqueza
nacional, a hidrelétrica vai custar, diluída por 50 anos? Vosmecê sabe? Ó
aqui a minha boquinha enquanto ela diz, assim: D-U-V-I-D-O.
Leitores,
me irrita, e muito, essa tentativa de fazer a minha cabeça por
processos tão rudimentares. Se querem, mandem coisa melhor e terão toda a
minha atenção. Isso aí é manipulação tola, boba, mesmo que muito bem
intencionada. Isso tem cara de ONG que consegue apoio de um publicitário
bonzinho e muita gente bacana e vamos lá, salvar as baleias do Xingu.
Pois me irrita pra caramba, pelo desrespeito para comigo, que vivo no
mundo real, não dos comerciais sejam eles do governo ou de ONGs. Eu não
sou uma baleia, acho.
Eu vivo em uma sociedade industrial, que
pode abrir mão de muitas coisas e do bom senso quase o tempo inteiro,
mas não resiste a umas poucas horas sem energia. Vira gelo, sem gelo pro
uísque. Vira fogo sem ar condicionado para resolver a vida na fornalha.
Vira uma luta pelo pedaço de pão mais próximo, vira a impossibilidade
de chegar até a nossa casa. Podemos ficar sem quase tudo, e eu poderia
ficar muito bem sem axé, o Malafaia e a lasanha congelada, mas não
podemos ficar sem energia. Podemos e devemos economizar energia. Podemos
e devemos desenvolver energias renováveis, e o faremos. Podemos e
devemos esquecer a maluquice de construir Angras 3, 4 o escambau, mas
não o faremos. Angra 3 ou 4 são muito, muito piores do que qualquer Belo
Monte e certamente piores do que Fukushima, especialmente se ficarem no
Rio, que, digamos, não é o Japão.
Mas para chegarmos até as
novas energias, precisamos de energia da que se produz agora e o resto
é, infelizmente, poesia. Não a qualquer custo, mas a custos que valha a
pena pagar. E essa avaliação tem que ser muito, mas muito racional e
justa do que eu vejo nos youtubes que vêm e vão.
Se vamos escapar
do fogo ou do gelo, é pela inteligência, como sempre foi e será. E
desse debate, por tudo que eu vi, ela está longe, muito longe, muito
mais longe do que o Pará, e muito menos inteligente do que precisa ser
para ser.