O prefeito de Juína, Hermes Bergamim, afirma que o projeto de ampliação da reserva indígena Enawenê-Nawê no nordeste do estado irá aniquilar a economia do município. A demarcação pretendida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) abrangerá, de acordo com Bergamim, 83% da extensão da cidade.
“A demarcação hoje que está pedindo pela Funai, ela vai pegar quase todo o município de Juína. Enawenê-Nawê são em torno de mil índios e eles já tem praticamente um milhão e cem mil hectares e eles querem pedir de 200 a 300 mil hectares”, afirma o prefeito.
Mas segundo o prefeito, a iniciativa de aumentara a área, não partiu dos indígenas. “Nós nunca tivemos problemas, nunca tivemos problemas com indígenas, nosso maior problema é a Funai que está incitando os índios contra a agente”, defende.
O processo para aumentar a reserva tramita há cerca de 8 anos. “Hoje já estão querendo falar em demarcação de áreas, nós não vamos aceitar demarcara áreas produtivas e outras regiões onde tem pessoas há 30 anos produzindo alimentos, há 30 anos lá dentro, para colocar os índios”, afirma.
“Inclusive, os índios que já estão querendo o aumento em cima de uma área de 150 mil hectares de uma área produtiva de pecuária, uma área totalmente desmatada, não tem mato, não tem porque fazer essa área ir para os índios e se isso acontecer, o município vai saltar de 62% de reserva indígena para 83% de reserva indígena, praticamente vai quebrar o município de Juína”.
O exemplo de Suiá-Missú
Para Bergamim, a desintrusão de não índios nas terras remanescentes da gleba Suiá-Missú, área que deu lugar à demarcação Marãiwatsédé, abriu um perigoso precedente pra produtores rurais no Brasil.
“O que aconteceu na Suiá é uma vergonha do povo brasileiro, nós tirarmos produtores que estavam produzindo leite, carne, soja, brasileiros trabalhadores para entregar para os índios. Mas não são os índios o problema, e sim a Funai, que incitou os índios a ir para cima”, avalia.
“Por que nós não colocamos os índios na Amazônia Legal que não é ocupada? Por que os índios não nos ajudam a ocupar a Amazônia?. Eu tenho para mim que o que não é ocupado acaba sendo tomado pelos outros. Vamos ocupar a Amazônia Legal com os índios porque ela está praticamente inabitável, não tem índios, não tem brancos e não tem brasileiros dignos morando lá”, apela.
Ongs x Produtores
Para Bergamim, a disputa de terras entre produtores e indígenas no Brasil está sendo insuflada por mentes que estão por trás de Ongs e por trás da Funai. As disputas, sustenta, são, de fato, entre ruralistas e ambientalistas. Na ótica do prefeito, representantes do setor ambiental tem se utilizado do aparato de Ongs e se infiltrado na Funai para desmantelar grande produções de alimento.
“Nos temos hoje praticamente no Mato Grosso Inteiro pedidos de aumento de reserva indígena em torno de 60 a 70 áreas”, contabiliza. “”Mas o que nós estamos notando é que não é o índio que quer a terra. O povo lá de fora está colocando dentro da Funai ambientalistas com segundas intenções. Não existe um lugar no planeta que tem 20 milhões de hectares aptos a produzir alimentos e nós temos isso no norte de Mato Grosso”, cogita.
Articulação política
Já se iniciou uma articulação política para tentar impedir a demarcação indígena. Será realizada em Juína nesta segunda-feira (1) uma audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso para discutir a ampliação da terra Enawenê-Nawê, cujo projeto expande os limites da reserva sobre parte dos municípios de Brasnorte, Sapezal e Juína.
A audiência deve contar com a presença de parlamentares estaduais e federais, que tentam impedir o avanço do projeto encabeçado pela Fundação Nacional do Índio (Funai). “A confirmação de que a Funai pretende ampliar os limites da Terra Indígena Enawenê-Nawê mobilizou a classe política mato-grossense que tenta barrar o novo processo de demarcação, onde deverá ser atingida uma área com mais de 600 mil hectares”, explicou o deputado estadual Dilmar DalBosco (DEM).
O debate será realizado na Associação Comercial (Ascom) daquele município a a partir das 17h. O evento, segundo DalBosco, marcará a primeira manifestação contrária à criação da reserva.
 Fonte: Lucas Bólico/ Olhar Direto