quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Big Brother Real



Caiu no colo do governo a história de que os americanos estão espionando nossos telefonemas e nossas mensagens pela internet. Enfim, fomos promovidos a nação espionável - ao lado da Índia. Mas não é apenas essa promoção que alegra o governo. Mas sim a oportunidade em que a bisbilhotagem é anunciada: bem no momento em que o governo já não sabe o que fazer para desviar esse incômodo assunto das ruas, que julgam o ministério grande demais, a corrupção grande demais, a insegurança pública grande demais e a educação, a saúde e o transporte urbano pequenos demais. O governo insiste em não ter entendido. De audição falha, o governo só gerava respostas como pacto plebiscito.
Ficamos indignados ao saber que big brother não é apenas a ficção do George Orwell no seu 1984Ele existe e é o nosso grande irmão do norte. O governo, que não é bobo, vai aproveitar a chance  para unir a nação indignada em torno dele, governo, para ser porta voz da indignação nacional contra o Grande Irmão. Assim unidos, quem sabe os brasileiros aceitem que a presidente contrarie as ruas, teimando que vai importar médicos, vai fazer a Copa, vai insistir no plebiscito e não vai  desinchar o ministério. E em lugar de fazer coisas simples, mas urgentes, insiste numa complexa reforma política, na tentativa inútil de desviar a atenção. À beira do fracasso da estapafúrdia idéia de plebiscito, chega o big brother como mágica diversionista.

 
O Congresso fez diferente: tratou de aprovar em dias o que se arrastava há anos. Só marqueting: a maior parte dos temas aprovados será inútil. Numa sessão presidida por Renan Calheiros, o Senado aprovou, por exemplo, que corrupção é crime hediondo. Irônico, não?  Ficha limpa para funcionário público. Mas para fazer concurso já não se exigem certidões negativas da polícia e da Justiça? E que tal a derrubada da PEC 37? Divertido, não? O Ministério Público agora vai precisar de outra PEC para dar-lhe o direito de investigar, que não está na Constituição.
Bem que os espiões americanos que guardam tantas ligações telefônicas, poderiam nos presentear com conversas entre corruptores e corrompidos - ambos corruptos. Tem tanta gente curiosa para saber como construíram os estádios, como se reformam aeroportos, como se vencem licitações, como se votam emendas do orçamento, como um assessor do presidente da Câmara fica três dias com 100 mil reais retirados do banco até que seja assaltado... ah, há tanta coisa que esse Grande Irmão arquivou e que poderia clicar num encaminhar aos seus irmãozinhos do sul que saíram às ruas sonhando com mudanças...

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

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