sábado, 17 de dezembro de 2011

Observação de peixes demonstra que alienados impulsionam a democracia


Cientistas dos Estados Unidos descobriram que certos peixes de água doce são excelentes ratos de laboratório para pesquisar o poder surpreendente dos "desinformados" na tomada de decisões grupais, o que parece demonstrar que os ignorantes favorecem a democracia.
Graças a estes peixes, conhecidos como carpas douradas (''Notemigonus crysoleucas''), cientistas da Universidade da Princeton em Nova Jersey (leste) concluíram que os indivíduos aos quais não importa muito o resultado de uma situação dada podem diluir a influência de uma minoria poderosa que, de outra forma, seria dominante.
As conclusões de seu estudo, intitulado "Os indivíduos sem formação promovem o consenso democrático em grupos animais", foram publicadas na edição desta sexta-feira da revista Science.
A observação dos peixes permitiu provar que as pessoas apolíticas, quando pressionadas a tomar uma decisão, evitarão à da minoria, sem importar se o seu ponto de vista é ou não inteligente.
"Os peixes proporcionam um sistema em pequena escala muito conveniente, onde mostram dinâmicas coletivas realmente fantásticas", afirmou o principal cientista que participou do estudo, Iain Couzin, do departamento de Ecologia e Biologia Animal de Princeton.
"São muito fáceis de treinar e desenvolvem fortes preferências", explicou o professor de origem escocesa, acrescentando que estes peixes são, ainda, "um bom modelo biológico de consenso na tomada de decisões".
O fornecimento das carpas douradas, comuns em todo o leste da América do Norte, coube ao Fazenda de Carpas Anderson, em Lonoke, no Arkansas (centro), onde são reproduzidos, literalmente, bilhões destes peixes ao ano para usar como isca.
No laboratório de Princeton, um grupo de peixes foi treinado para associar a cor azul a um prêmio de comida.
Outro grupo, menor, foi treinado para fazer o mesmo, mas com a cor amarela, que é o que as carpas douradas preferem a qualquer outra quando estão em seu hábitat natural.
Ao reunir os dois grupos, os cientistas descobriram que a minoria que era quem decidia para qual cor todo o cardume devia nadar para apanhar a recompensa.
Segundo os cientistas isto ocorreu porque os "sentimentos" da minoria eram mais fortes do que os do restante do grupo. Se as preferências dos dois subgrupos tivessem a mesma carga emotiva, a decisão teria sido tomada pela maioria, explicaram.
Mas as coisas, então, mudaram quando alguns peixes não treinados, representando o que Couzin e sua equipe chamariam de grupo de "desinformados" do reino dos peixes, sem qualquer preferência por uma cor ou outra, foram inseridos no grupo.
"À medida que adicionamos ''indivíduos desinformados'' no processo, voltamos a dar o controle do grupo à maioria", disse Couzin à AFP durante entrevista coletiva.
"As pessoas desinformadas espontaneamente apóiam a opinião da maioria e reduzem, efetivamente, as diferenças de intransigência entre os dois subgrupos".
Ao introduzir o resultado em modelos matemáticos e simulações por computador, os cientistas encontraram um paralelismo no comportamento humano, que mudou pressupostos comuns sobre o poder das minorias que se pronunciam abertamente.
"Normalmente, supomos que um grupo muito obstinado e enérgico vai influenciar todo mundo", disse Donald Saari, da Universidade da Califórnia, citado em um comunicado de Princeton. "O que temos aqui é muito diferente", acrescentou.
Em um contexto político, isto poderia explicar o porquê de um candidato linha-dura ou um partido extremista poderiam se sair bem nas primárias, fracassando quando os eleitores "desinformados" votarem em massa nas eleições gerais.
"Os indivíduos desinformados efetivamente impulsionam uma saída democrática", disse Couzin, embora tenha dito que há limites, como ficou evidente no aquário.
"Ao adicionar ''indivívuos desinformados'', eventualmente reina o ''ruído'' (confusão)", disse.
Nesse momento, informação de nenhum tipo se compartilha com eficácia e todo o grupo começa a tomar decisões ao acaso.

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