Remédios e cosméticos derivados do gengibre amargo, para tratamento contra câncer, e farinha de pupunha são licenciados
O
tratamento contra o câncer vai receber um aliado amazônico em dois
anos, quando a zerumbona, princípio ativo do gengibre amargo estará no
mercado consumidor.
O
gengibre amargo é um dos dois produtos que, após 15 anos sendo estudado
pelo doutor em biotecnologia Carlos Cleomir Pinheiro, foi licenciado
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) para uma empresa
privada.
O
outro produto licenciado é a farinha de pupunha a partir da hidratação
do fruto sem casa, desenvolvida pela pesquisadora Jerusa Andrade.
A
assinatura do licenciamento dos dois produtos aconteceu nesta
quarta-feira (30), na diretoria do Inpa. Esta é a primeira vez que o
Inpa, em 57 anos de existência, licencia produtos para escala comercial a
partir de trabalhos desenvolvidos pelos seus pesquisadores.
Há
cinco anos, outro produto, a sopa de piranha, também chegou a ser
licenciado, mas o proprietário da empresa que assinou o contrato foi uma
das vítimas do acidente aéreo da empresa de aviação Gol. O
licenciamento foi rescindido e retornou ao Inpa.
O
gengibre amargo, encontrado em várias regiões da América Latina, e a
farinha da pupunha, foram licenciados respectivamente pelas empresas
Biozer da Amazônia Indústria e Comércio de Cosmético Ltda e pela Néctar
Frutos da Amazônia.
A
previsão é de que em março de 2012 outros 12 produtos resultados de
pesquisa sejam licenciados para empresas de grande porte, sendo que
algumas delas tem abrangência nacional.
Câncer
Como potencial para ser utilizado na indústria farmacêutica como produto medicinal e cosmético, o gengibre amargo (Zingiber zerumbet) estará no mercado em dois anos, segundo Daniely Pinheiro, sócia da Biozer da Amazônia.
Já
existe a perspectiva de que, quando fabricado, o produto faça parte da
lista de medicamentos aplicados a pacientes da Fundação Centro de
Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecom).
O
projeto está sendo analisado pelo conselho de ética da instituição,
para tratamento paliativo, destinado a pacientes que já passaram por
radioterapia e quimioterapia.
A
identificação do potencial do gengibre amargo ocorreu há mais de 15
anos. Até então, segundo Carlos Cleomir Pinheiro, ele era utilizado
apenas como ornamentação na região amazônica.
“Descobrimos
esse gengibre por acaso, numa área do Tarumã, em Manaus, pensando que
era o mesmo gengibre, a mesma mangarataia. Observamos que em toda a
parte de Manaus havia”, conta.
Ele
explica que a partir de um trabalho de pesquisa, de revisão
bibliográfica, foi observado que esse tipo de gengibre é muito consumido
nos países asiáticos.
“Mas
eles utilizam nos alimentos, como mistura de várias ervas e como
tratamento tradicional. Os estudos hoje mostram que esse tipo possui um
composto chamado zerumbona e tem potente ação citotóxica para vários
tipos de cânceres, sobretudo por aqueles provocados por vírus do herpes,
que são pele, colo do útero, fígado”, disse o pesquisador.
A
diferença entre o uso do gengibre amargo na Ásia para o pesquisado na
Amazônia, é que naquele continente o produto não é industrializado.
“Esse
nosso gengibre é igual o de lá, mas desenvolvemos um trabalho de
aprimoramento. Nós melhoramos o processo de obtenção do composto, para o
uso de outras atividades farmacológicas terapêuticas”, explica.
No
mercado local, a empresa vai trabalhar com várias linhas de produtos na
indústria farmacêutica, terapêutico e cosméticos à base neste tipo de
gengibre.
Segundo Daniely Pinheiro, a Biozer vai iniciar no mercado justo com os produtos licenciados pelo Inpa.
“Essa
transferência tecnológica vai dar valor enorme aos produtos. O gengibre
é muito conhecido. Mas na Ásia é uma especiaria na alimentação e nos
condimentos. Não existe uma empresa no mundo que tenham esses produtos,
nem na Ásia. Nossa meta é levar nossos produtos localmente e
mundialmente”, conta Daniely.
A intenção, segundo Daniely, é buscar parcerias com empresas nacionais para incrementar os investimentos.
Farinha
O
proprietário da Néctar Frutos da Amazônia, Márcio Navegantes, diz que a
perspectiva é de lançar em até um ano a farinha da pupunha no mercado
regional. A empresta já trabalha com produtos da região, fabricando
doces e geléias.
“A
farinha é algo primário. Mais adiante queremos desenvolver os
derivados, que seria o míngua, farinha para bolo, pais integrais. A
farinha da pupunha é igual a farinha comum, mas é altamente
nutricional”, explicou.
Inovação
A
entrada do Inpa no processo de transformação do conhecimento em um
produto destinado à escala comercial começou em 2002, quando foi criado
um núcleo que atuasse especificamente na inovação tecnológica.
Quando
o núcleo foi transformado na Coordenação de Extensão Tecnológica e
Inovação, o setor obteve mais autonomia para cortar obstáculos,
sobretudo burocráticos.
O
papel da coordenação é atuar como ponte entre o pesquisador e sua
equipe e a empresa interessada em comercializar o produto resultado
destas pesquisas.
A recompensa financeira dos autores do produto ocorre por meio de royalties, a partir das patentes depositados.
Conforme
a coordenadora de extensão tecnológica e inovação, Rosângela Bentes, a
postura do Inpa enquanto seu modelo de negócio para essas empresas é de
permitir receber por meio de royalties. Serão beneficiados o
pesquisador, sua equipe, a instituição e a coordenação responsável pelo
trabalho de inovação”, disse.
"Inovar
é simples. Basta valorizar as pessoas, entender a demanda, propor
mecanismos para harmonizar os interesses comuns entre a pesquisa e as
empresas, sobretudo quando se trata de micro-empresa", disse ela.
Fonte Acirtica
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