segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Menos colonizador, Brasil tem portas abertas na África


Tecnologia agrícola brasileira se adapta a solo africano com facilidade
 
 
MAURO ZAFALONCOLUNISTA DA FOLHA

A presença brasileira em países da África vai se intensificar cada vez mais. Grande parte dos países africanos está em um estágio agrícola dos anos 1960 e necessita recuperar rapidamente o tempo perdido nas últimas décadas.
Os governos descobriram que o Brasil é o caminho mais curto. Similaridade de clima, de lavouras, de cultura e o mesmo idoma em vários deles deixam as portas abertas para os brasileiros, que não são vistos como os tradicionais colonizadores europeus.
Se o Brasil quiser fincar pé no continente tem de agir rápido, porque os chineses já têm centros de pesquisas agrícolas em dez países e os indianos também marcam presença em vários deles.
Nesses dois casos, a participação governamental é grande porque eles querem segurança alimentar, diferentemente do Brasil, que se firma como um grande fornecedor mundial de alimentos.
A vantagem do Brasil é que a tecnologia agropecuária do país se adapta ao solo africano. A condição "continental" brasileira faz com que as variedades de grãos, a cana e até a pecuária tenham condições similares às africanas.
Com isso, os governos africanos sabem que a entrada de seus países na lista de produtores de alimentos pode ser encurtada através da "via Brasil".
TERRA MAIS BARATA
Essa aproximação Brasil-África traz vários benefícios para os brasileiros, que passam a ser exportadores não apenas de commodities (soja, café, álcool etc.), mas também de tecnologia agrícola, incluindo sementes, genética e equipamentos.
Os produtores brasileiros vão encontrar, pelo menos no início, terras com preços mais baixos do que os já atingidos no Brasil, o que reduz os custos de produção.
Além disso, as tradicionais barreiras não tarifárias, que aumentam conforme o Brasil ganha importância no cenário mundial agrícola, são menores para os países africanos, principalmente as impostas pelos europeus.
No campo político, a aproximação brasileira com os africanos pode render frutos para a pretensão do Brasil de ganhar importância em organismos internacionais.
MEDO
Mas essa aproximação traz medo em parte do setor agropecuário. Na avaliação de muitos, o país estaria entregando "de bandeja" tecnologias obtidas durante anos e, com isso, alimentando um futuro concorrente.
O temor parece exagerado porque a disponibilidade de terras nesses países é bem menor do que a no Brasil, que a cada ano aumenta a produção de alimentos.
Entre as dificuldades que os brasileiros vão encontrar na África está a da estrutura fundiária. Grande parte das terras férteis ainda está em mãos tribais e de generais, devido a acordos políticos.
Eles necessitam de parcerias com produtores experientes, mas essa negociação pode ser feita com muita desconfiança.
Por isso, a participação do mercado financeiro na produção agrícola ainda é restrita no continente.

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