sábado, 8 de junho de 2013

Credibilidade em declínio

Por Pedro Luiz Rodrigues

No ano passado, após a publicação neste espaço de meu muito discreto artigo ‘Em jogo, a credibilidade’, recebi algumas ligações de gente preocupada pelo modo um tanto seco com que nele teria tratado o Ministro da Fazenda, o ínclito Guido Mantega.
 
Na verdade, naquele e em outros artigos que se seguiram, só fiz registrar minha preocupação com a conduta profissional – pouco profissional, melhor dizendo- de gestores econômicos do Governo que, movidos por impulsos de natureza ideológica, insistiam em empurrar o Brasil para um resvaladiço campo de quiabo. O mesmo no qual estamos escorregando até hoje.
 
Tendo sido, por mais de dez anos, responsável pela cobertura do Ministério da Fazenda (Delfim Netto, Mário Henrique Simonsen, Rischibieter) para importantes jornais do Rio e São Paulo, e de ter assessorado três Ministros da Fazenda (Ernane Galvêas, Marcílio Marques Moreira e Pedro Malan) em seu relacionamento com a mídia e a sociedade, conheço quase por instinto os caminhos que levam ao desastre.
 
Sei, por exemplo, que Ministros da Fazenda não devem ser boquirrotos. O que dizem tem o que os romanos designavam como gravitas, o peso da dignidade, da responsabilidade, que é colocada como coisa séria em balanças aqui e no exterior. Nesse aspecto, foi muito adequado o titular da Pasta ter resolvido se calar sobre previsões relacionadas ao crescimento do PIB, depois de dois anos sem ter acertado nenhuma.
 
Sei, também, quão importante é para a credibilidade (e a imagem de credibilidade) do Ministério da Fazenda em contar com equipe técnica da melhor qualidade. Ninguém é insubstituível, claro, mas deixar sair da secretaria-executiva (por razões menores) o habilidoso e competente Nelson Barbosa representou, para o governo, um tiro no pé. Barbosa, na secretaria-executiva, assegurava ao delineamento e execução das políticas fazendárias os indispensáveis equilíbrio e bom senso.
 
Não ajuda também ao reforço da credibilidade a demora em se escolher o novo vice-ministro. Barbosa havia se oferecido para ir levando o barco até julho, mas alguma ingrisia intestina fê-lo sair de cena de imediato. Como o tempo passa e não se define o substituto, fica a sociedade com a impressão de que o Governo está com dificuldade de escolher um nome. Ou pior, de que ninguém quer subir à bordo com o navio fazendo algo.
 
Tenho lido que um nome considerado para a secretaria-executiva seria o do secretário do Tesouro Nacional, o gaúcho Arno Augustin. Entre as qualidades que se lhe apontam está a de ser muitíssimo próximo da Presidente Dilma Rousseff.
 
Liguei para um amigo do Rio Grande do Sul para saber um pouco mais sobre o secretário: economista, petista roxo, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul (onde foi colega de Dilma, no governo Olívio Duatra) e com excelentes relações com Antonio Palocci, que em 2002 o escolhe para integrar a equipe de transição para a instalação do governo Lula.
 
 
Li recente entrevista sua (29 de abril) no jornal Valor, precedente ao anúncio do desempenho desastroso das contas públicas em março. Augustin, de quem se esperaria naturalmente manifestações de cautela, preferiu a pirotecnia. Disse que o governo deixara de trabalhar com uma meta rígida para o superávit primário. Por qual extraordinária razão? Para ter liberdade para conduzir uma política fiscal mais contracionista ou expansionista, conforme os ventos e os humores.
 
Faço meus os comentários recentes do Rogério Furquim Werneck: o recuo da Presidente para um círculo mais restrito de auxiliares não se faz sem custo, “implica grave perda adicional de racionalidade na condução da política econômica”.
Por essas razões, e aos resultados nada estimulantes produzidos pela economia real, não surpreende que o prestígio do Brasil esteja em declínio nos meios financeiros internacionais. Na medida em que vamos deixando de lado a racionalidade, vamos perdendo a credibilidade. Os relatórios que os bancos mandam às suas matrizes seguem cheios de sinais de interrogação; a imprensa especializada internacional começa a examinar os dados do país, e os artigos já não são tão favoráveis quanto antes.

Nossa inserção econômica regional também não ajuda a se forjar otimismos. Nossa parceria com a Argentina e a Venezuela não nos levará longe, na medida em que os dois países afundam em seus próprios pântanos.

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