sábado, 9 de abril de 2011

O preço da cabeleira

Fonte Epoca


Um estudo divulgado na semana passada causou burburinho entre os homens por envolver duas de suas maiores preocupações: a calvície e a impotência. O endocrinologista Michael S. Irwig, da Universidade George Washington, investigou os efeitos da droga finasterida (a mais usada no combate à perda de cabelo) sobre a vida sexual. Irwig entrevistou 71 homens (entre 21 e 46 anos) que tomavam o remédio e relataram dificuldades sexuais. Nesse grupo específico, 94% tiveram redução da libido, 92% sofreram disfunção erétil e 69% apresentaram dificuldades de atingir o orgasmo. Os problemas – e essa é a grande novidade, em relação ao que se sabia do produto – persistiram em média 40 meses depois da interrupção do tratamento. “Um em cada cinco homens relatou dificuldades até cinco anos depois de parar de tomar o remédio”, disse Irwig a ÉPOCA. Seu artigo foi publicado no Journal of Sexual Medicine.

No Brasil, mais de 20 produtos contêm a substância finasterida. O mais conhecido é o Propecia, da Merck Sharp & Dohme. A bula informa que a droga pode provocar problemas sexuais, mas que eles são revertidos em, no máximo, três meses após a interrupção do tratamento. A pesquisa de Irwig é a primeira a mostrar que os efeitos indesejados podem durar muito mais tempo. Nenhum representante da Merck Sharp & Dohme falou sobre o assunto. A empresa tampouco informa quantas unidades do medicamento são vendidas no Brasil. Em nota, afirma que em estudos realizados com 3.200 pacientes, apenas 1,8% sofreu efeitos colaterais como diminuição da libido, disfunção erétil e redução do volume ejaculatório. Segundo a empresa, esses efeitos foram revertidos em poucas semanas ou, no máximo, em um trimestre.

“Não podemos encarar o estudo como verdade absoluta”, diz o dermatologista Le Voci

O estudo de Irwig tem limitações. A principal delas é ter sido realizado apenas por meio de entrevistas telefônicas, sem avaliações clínicas ou análises laboratoriais. O endocrinologista diz que decidiu investigar o remédio depois de receber queixas de pacientes e de conhecer o site propeciahelp.com, que reúne homens que atribuem seus problemas sexuais ao uso da finasterida. Sua amostragem, portanto, contém apenas homens que tiveram problemas com a droga – uma fração do universo total dos que tomam o remédio.

“Não podemos encarar esse estudo como se ele fosse uma verdade absoluta”, diz Francisco Le Voci, membro do departamento de cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia.“Tratei cerca de 5 mil pacientes com esse remédio. Uns 2% reclamaram de redução de libido, mas o problema sempre foi transitório”, afirma. O trabalho de Irwig tem o mérito de chamar a atenção para um tema que merece ser investigado. No Reino Unido e na Suécia, as agências regulatórias informam os pacientes de que houve relatos de disfunção erétil persistente mesmo depois da interrupção do tratamento. Mesmo que o problema tenha ocorrido em poucos pacientes, informação nunca é demais.

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