terça-feira, 15 de março de 2011

De vira-lata

Eduardo Gomes é jornalista

Ibama, Funai, Força Nacional, Polícia Federal e Procuradoria Geral da República formam as cinco faces do poder central na imensidão amazônica de Colniza, Aripuanã, Juruena e Cotriguaçu onde a figura do Estado em sua amplitude é ausente nas áreas de saúde, saneamento, habitação, regularização fundiária, transporte, segurança e educação.

No bolsão do noroeste formado por esses quatro municípios e o isolado Rondolândia a União somente se faz presente exigindo deveres sem jamais conceder os direitos constitucionais aos cidadãos que ali vivem em ambiente insalubre e entregues à própria sorte.

O município de Colniza reiteradas vezes é apresentado nacionalmente por reportagens sensacionalistas na condição de terra sem lei, de antro de assassinatos, império da grilagem, berço do mal pela visão mais satanizadora possível. Juruena também ocupa manchetes por suposto sangue derramado enquanto Aripuanã é dita vilã ambiental. Rondolândia é taxada de terra bandida que matou o padre Ezequiel Ramin. Cotriguaçu sequer é citado; para os detratores é zero à esquerda.

Colniza e seus vizinhos não gozam do tratamento previsto pelo pacto federativo; recebem apenas migalhas politiqueiras de Brasília. Prova dessa afirmativa foi a promessa feita em Cuiabá, na sexta-feira, pelo ministro de Integração Nacional, Fernando Bezerra, de liberação emergencial de R$ 5 milhões para atender aquele município ora castigado por chuvas. O ministro disse que o óbolo tem as impressões digitais da presidenta Dilma. Nada mais acrescentou, mergulhando em silêncio sepulcral sobre a responsabilidade da União no tocante ao caos provocado pelas chuvas.

Fernando Bezerra não disse que a ponte de madeira de 274 metros sobre o rio Aripuanã, que foi arrastada pelas águas, era a travessia da rodovia BR-174 (que liga Cáceres via Vilhena, Juína, Juruena, Aripuanã e Colniza ao Marco BV na divisa com a Venezuela), muito embora a mesma seja rotulada por nomenclatura rodoviária estadual. Também não citou que a maioria das famílias isoladas na margem esquerda do Aripuanã foi assentada pelo Incra. Silenciou-se sobre o fato de a Funai tutelar as imensas áreas indígenas da região e da Funasa se ocupar da saúde nas mesmas, do DNPM controlar o subsolo, do Ibama exercer a fiscalização florestal, da prevalência da Marinha sobre o Aripuanã.

O ministro do governo ausente posou para fotos e filmagens. Tratou o caos nos cinco municípios como algo passível de se resolver com “ajuda federal”. Senhorial Fernando Bezerra retornou para Brasília sob poucos olhares críticos num universo onde abunda o complexo de vira-lata.


eduardo@diariodecuiaba.com.br

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