sexta-feira, 1 de março de 2013

Textos que todo Brasileiro precisava ler.


Retrocesso

Por Pedro Luiz Rodrigues

Dias atrás, o Banco Mundial publicou um relatório técnico, de oito páginas, intitulado ‘O Abismo Brasileiro da Competitividade’ (The Brazilian Competitiveness Cliff), cujo conteúdo deveria merecer a mais séria atenção de nossos gestores públicos.

Apresentam seus autores (os economistas Otaviano Canuto, Matheus Cavallari e José Guilherme Reis) um dado que costuma ser comemorado como uma grande conquista brasileira: entre 2000 e 2010 nossas exportações  praticamente triplicaram em valor.

O que é importante, apontam para algo que os números extraordinários do comércio não revelam à primeira vista: estamos exportando cada vez mais commodities (produtos do setores agropecuário e mineral) e cada vez menos produtos manufaturados, em particular os com alto conteúdo tecnológico.

Obviamente, somos afortunados em poder contar com empresários dinâmicos no setor dos agronegócios, capazes de remar contra todas as máres negativas – custo Brasil, ausência de crédito em condições favoráveis (quem, hoje, ouve ainda se falar da expressão crédito rural?) – e ainda emplacar resultados verdadeiramente extraordinários. Se não fosse pelo agronegócio, já teríamos ido há muito tempo para o beleléu.

Mas por que não seguimos no mesmo diapasão no que se refere à indústria?

O diagnóstico feito pelos três economistas identifica as dificuldades que enfrentam o setor industrial no Brasil, onde seus produtos perdem posição relativa na pauta de exportações,  mas também caem a própria produção industrial e os investimentos no setor.

As razões que estão levando o Brasil de volta ao período anterior a 1964 (o ano do golpe militar, quando as exportações de café representavam 56% de tudo o que vendíamos ao exterior) situam-se, em boa medida, na esfera oferta (supply-side), decorrentes de uma vasta gama de ineficiências e preços elevados.

Segundo os economistas do Banco Mundial, entre os fatores que vêm contribuindo para a perda de competitividade  do setor industrial brasileiro estão o câmbio, as péssimas condições da infraestrutura (que eleva os custos da logística), a excessiva burocracia a falta de dinamismo do empresário e a tendência ascendente dos níveis salariais.


Esse diagnóstico reforça a urgência de se retomar a agenda das reformas microeconômicas no pais, objetivando aumentar o nível dos investimentos e melhorando a qualidade da mão-de-obra.

Se essa situação não se modificar, continuaremos ficando para trás, comparativamente ao desempenho das demais potências emergentes.

Alguns dados contidos no trabalho ferem, mesmo, a imagem de extraordinário sucesso que nossos dirigentes têm feito de suas respectivas administrações.

Vejamos o item exportações de bens e serviços brasileiros, cujo aumento na última década foi de 262%. Um extraordinário sucesso, sem dúvida, mas que perde em brilho quando comparamos com o desempenho dos outros integrantes do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul), tomados em seu conjunto: como média as exportações desses países cresceram 439% no mesmo período.

Uma parte na diferença de desempenho tem a ver com o fato de o Brasil ser um caramujo ensimesmado. Abrimos um pouco nossa economia no passado (em 2005, exportações e importações quase alcançaram 30% de nosso Produto Interno Bruto), mas aos poucos essa participação vem caindo (23% em 2010, algo em torno de 20% em 2012).

Mais preocupante: a participação de produtos de alto conteúdo tecnológico nas exportações brasileiras vem se reduzindo acentuadamente. No ano 2000 representava 10,4% de total de nossas vendas ao exterior; em 2010 beiravam os  cinco por cento e, hoje, ainda menos.

É quando se compara que fica claro o quanto vamos ficando para trás. Nos dez anos que estamos considerando, as exportações brasileiras de produtos de alta tecnologia, em termos nominais, expandiram-se modestíssimos 36%. Um nada, quando se comparado com o aumento das exportações desse mesmo tipo de produtos pela China (873%) e pela Índia (389%).

No mesmo período, as exportações brasileiras de commodities passaram de 43 para 63%. E boa parte desse aumento pode ser atribuído a um só produto (a soja) dirigida a um só mercado (a China). 

Urge uma decidida mudança de rumo em nosso desenvolvimento.
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