segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dono de boate admite alvará vencido e culpa banda por fogo, diz delegado Elissandro Spohr foi preso na manhã desta segunda (28). Computador que armazenava imagens das câmeras de segurança sumiu.


Do G1, em Santa Maria
Elissandro Calegaro Spohr, dono da boate Kiss, onde um incêndio deixou 231 mortos em Santa Maria (RS) no domingo, afirmou à Polícia Civil que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação.
Segundo o delegado Sandro Meinerz, responsável pelo caso, Spohr compareceu espontaneamente à sede da 1ª Delegacia da cidade no domingo (27). Nesta segunda, ele foi preso e está sob custódia em um hospital de Cruz Alta.
Conhecido como Kiko, ele culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio e negou ter ordenado aos seguranças que impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou.
Segundo o delegado, ele também negou ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. As gravações não foram localizados na boate. “Parecia que os fios tinham sido arrancados. Não sabemos afirmar se foi recente ou não. Peritos ainda irão analisar”, disse o delegado.
Spohr afirmou que o sistema não estava funcionando havia três meses e que, por isso, o computador não estava mais na boate.
Policiais civis cumpriram na noite de domingo mandados de busca e apreensão na casa de Spohr e de outro sócio da boate, Mauro Hoffmann, mas não localizaram o equipamento.

“Ele estava na festa na hora que o incêndio começou e, inclusive, diz que ajudou a socorrer alguns dos clientes e que deixou o local de carona com medo de ser agredido por clientes depois do fato. Inclusive o carro dele ficou guardado no estacionamento de um mercado em frente. Ele negou que tivesse mandado os seguranças fecharem a boate para impedir que alguém saísse sem pagar. Diz que isso não ocorreu”, afirmou o delegado.
Ainda conforme o delegado, Spohr disse que o fogo teve início após a banda Gurizada Fandangueira usar um sinalizador no palco para fazer efeitos.
O advogado de Spohr, Jader Marques, disse que "é importante que não se faça um juízo antecipado de condenação de ódio, de raiva, despejando sobre a pessoa toda a incompreensão, todo o peso da tragédia". " As pessoas precisam ter em mente que durante muitos anos essa casa foi de diversão dos amigos do Kiko. Lá que eles comemoraram muitas datas, foi um ambiente bom para todo mundo até a tragédia", afirmou.
Sobre a internação em Cruz Alta, o advogado afirma que foi "por recomendação médica ele se submeteu a um tratamento de observação, desintoxicação", disse. "Ele atuou incansavelmente nas atividades e inalou muita fumaça. Teve de ser internado para receber tratamento."
Segundo o advogado, Spohr estava na boate "recebendo, atendendo, e com a esposa grávida". "Ele perdeu funcionários."
Os músicos disseram que houve um curto circuito em fios que estavam no teto do palco após o equipamento conhecido como "sputnik" ser utilizado. Segundo eles, o grupo já tocava uma outra música quando o fogo teve início.
O auxiliar de palco, responsável por fazer os efeitos, também disse que o fogo não foi provocado pelo sinalizador, conforme o delegado. A banda disse que o modelo usado na apresentação não tinha capacidade de provocar incêndio.

Spohr também afirmou à polícia que a licença de funcionamento estava vencida desde agosto de 2012, mas que, em outubro, havia pedido a renovação do alvará ao Corpo de Bombeiros.
Peritos acharam no chão da boate pedaços do sinalizador.
Na época, os bombeiros fizeram uma série de exigências e recomendações para que o local pudesse voltar a funcionar plenamente, segundo o dono. A polícia ainda apura quais exigências os donos da boate já haviam cumprido e como estava o processo de renovação.
A Kiss está no nome da mãe e da irmã de Spohr, mas os verdadeiros sócios são Elissando Spohr e Mauro Hoffman, segundo o delegado.

Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
Incêndio

O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico.
Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia, classificando como "uma "fatalidade".
A presidente Dilma Rousseff visitou Santa Maria no domingo e decretou luto oficial de três dias.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.
Guitarrista da banda
O guitarrista da banda Gurizada Fandangueira, Rodrigo Lemos Martins, negou a culpa pelo ocorrido. Ele disse acreditar que faltou sinalização da boate para a saída de emergência. "Queremos justiça. Não temos culpa de nada. Não queríamos perder um companheiro", afirmou, sobre a morte do sanfoneiro Danilo Jaques.
De acordo com o delegado Meinerz, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.
Estudantes que sobreviveram à tragédia relataram que, inicialmente, seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo perceberam a fumaça e liberaram a passagem.
O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. "Tirei mais de 180 pessoas dos banheiros. Eles estavam tentando fugir", disse.

Resgate
Muitas pessoas que conseguiram sair da boate ajudaram a socorrer as vítimas. "A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se proteger da fumaça", disse o jovem Murilo de Toledo Tiecher.
Arte - Boate (Foto: Arte/G1)

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